sexta-feira, 17 de julho de 2009

Auxílio Mútuo

Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se quanto possível contra os golpes do ar gelado, quando foram surpreendidos por uma criança semimorta na estrada, ao sabor da ventania de inverno.



Um deles fixou o singular achado e exclamado, irritadiço:



- Não perderei tempo! A hora exige cuidado para comigo mesmo. Sigamos à frente.



O outro, porém, mais piedoso, considerou:

- Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade.



- Não posso – disse o companheiro - Sinto-me cansado e doente. Este desconhecido seria um peso insuportável. Temos frio e tempestade. Precisamos chegar à aldeia próxima sem perda de minutos - E avançou para adiante em largas passadas.



O viajador de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o menino estendido, demorou-se alguns minutos colocando-o paternalmente ao próprio peito e, aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora menos rápido. A chuva gelada caiu metódica pela noite adentro, mas ele, amparando o valioso fardo, depois de muito tempo, atingiu a hospedaria do povoado que buscava.



Com enorme surpresa, porém, não encontrou ali o colega que havia seguido na frente. Somente no dia imediato, depois de minuciosa procura, foi o infeliz viajante sem vida encontrado numa vala do caminho alagado. Seguindo a pressa e a sós, com a idéia de preservar-se, ele não resistiu a onda de frio que se fizera violenta e tombou encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao congelamento.



Enquanto que o companheiro, recebendo em troca o suave calor da criança que sustentava junto do próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, salvando-se de semelhante desastre. Descobria a sublimidade do auxílio mútuo. Ajudando o menino abandonado, ajudara a si mesmo.



Avançando com sacrifício para ser útil a outrem, conseguiria triunfar dos percalços do caminho, alcançando as bênçãos da salvação recíproca. As mais eloqüentes e exatas testemunhas de um homem perante o Pai são as suas próprias obras. Aqueles que amparamos constituem nosso sustentáculo. O coração que amparamos constitui, agora ou mais tarde, em recurso a nosso favor.



Ninguém duvide! Um homem sozinho é simplesmente um adorno vivo da solidão, mas aquele que coopera em beneficio do próximo é credor do auxílio comum. Ajudando, seremos ajudados. Dando, receberemos.


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